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Autor: Ascom Adufg-Sindicato

Publicado em 30/10/2024 - Notícias

Fala Professor - Carta Aberta Tadeu Alencar Arrais

Fala Professor - Carta Aberta Tadeu Alencar Arrais

Sim, sou um professor de um curso de licenciatura. Um professor egresso das escolas públicas e da universidade pública. Gosto de imaginar que isso deposita, em meus ombros, um dever e uma responsabilidade. O DEVER daquele que olha para o passado e observa, em cada janeiro acumulado, uma instituição pública formativa e um conjunto de servidores públicos que respondem pelo substantivo “professor”. A RESPONSABILIDADE deriva do dever, do exercício, mesmo que solitário, de reconhecer uma dívida com o Estado que, mesmo precariamente, garantiu o acesso ao ensino médio no antigo Colégio Costa e Silva e a graduação na Universidade Federal de Goiás. Não escolhi cursar geografia. Não há romantismo na escolha dos pobres. Não é o dom que move a escolha, mas um conjunto de necessidades. Tornei-me, de qualquer modo, professor e isso garantiu a mobilidade social e espacial e, como alguns ingênuos acreditam, aquela distinção que nos separa dos outros. A história não é particular e traduz o movimento que permitiu alguma mobilidade social aos inúmeros professores e professoras das instituições públicas de ensino superior, fundamentalmente, aqueles cujo passado não foi azeitado pela herança. Essa é, resumidamente, uma parcela da história dos professores e professoras que ingressaram como docentes, nos últimos anos, nos cursos de licenciatura da Universidade Federal de Goiás. A UFG, e não tomarei o tempo com números, tem formado professoras e professores que atuam, diariamente, na Rede Publica de Ensino do Estado de Goiás. A cada formatura, arrisco-me a dizer, palavras como cidadania e citações de Paulo Freire lustram os discursos institucionais. Muitos discursos, esperançando, transformaram a esperança em verbo, um dos clichês mais reproduzidos na universidade. É como se ali, diante da multidão de pais, mães, amigos, disséssemos aos formandos: levem a UFG com vocês. São esses mesmos alunos e alunas, agora professoras e professores, que agonizam, em silêncio, na Rede Pública de Ensino Estadual. Aprenderam, da forma mais amarga, o significado da palavra egresso. Aprenderam, da forma mais amarga, que as palavras Empatia, Ética, Respeito, União, compostos da Missão da UFG, se aplicam, apenas, aos limites geométricos do Campus Samambaia. A voz institucional argumenta, recorrentemente, que a universidade segue a liturgia da neutralidade. A universidade, pela castidade que cultua, não se envolve em política. A decisão de punir professoras e professores do ensino básico, sendo política, está fora do escopo de interesse da universidade. Haverá o momento, no entanto, que a comunidade escolar, numericamente superior, responderá que, igualmente, não atenderá os reclames para defender a universidade pública dos projetos de privatização. Tiraremos das gavetas, nesse dia, um sem número de teorias para explicar os motivos pelos quais a população afastou-se da universidade. Nesse dia, quem sabe, em uma dessas reuniões das instâncias superiores, algum doutor explicará o silencio das ruas. Estando lá, não tenham dúvidas, responderei: o silêncio das ruas é produto de nossa histórica indiferença. 

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