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Autor: Ascom Adufg-Sindicato

Publicado em 20/06/2024 - Estadão, Na mídia

MEC quer testar escolas pré-fabricadas para substituir colégios destruídos no Rio Grande do Sul

Modelos permitem construção rápida e estão em análise técnica FNDE, que financia obras da educação

MEC quer testar escolas pré-fabricadas para substituir colégios destruídos no Rio Grande do Sul
Escola Municipal Darcy Ribeiro, em Florianópolis, tem estrutura feita com painéis de aço revestidos com manta termoacústica, lã de vidro, placa cimentícia e gesso e ficou pronta em 42 dias. Foto: Prefeitura de Florianópolis/Divulgação

Por Estadão

O governo federal quer utilizar construções industrializadas, como as casas pré-fabricadas que existem nos Estados Unidos, em obras de escolas públicas. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) pretende fazer um projeto-piloto com escolas do Rio Grande do Sul utilizando o modelo.

  • O FNDE identificou que pelo menos 39 escolas foram totalmente destruídas durante as enchentes históricas que atingiram o Estado no mês passado e precisam de reconstrução.
  • Diante do problema, autoridades locais têm questionado o governo federal a respeito do tempo e modelo utilizado nas obras

    Atualmente, o FNDE não admite em seus projetos de financiamento a realização de obras nesses moldes. Devido a isso, o órgão está correndo com os trâmites para viabilizar a partir de 2025 a possibilidade de construções industrializadas.

    Assim, a reconstrução imediata de parte das escolas deve ocorrer no modelo tradicional, mas o órgão pretende habilitar o novo formato para que possa ser utilizado e, dessa forma, acelerar o processo.

    “Temos sido muito instigados pelo pessoal do Rio Grande do Sul a construir de forma mais rápida. Tivemos 39 escolas que foram destruídas. Elas vão ter que ser começadas do zero. Imagina começar agora e entregar daqui a quatro anos? O que vai fazer com essas crianças? Não tem sentido isso. Talvez seja um primeiro laboratório para a gente desenvolver alguma coisa diferenciada”, afirmou ao Estadão a presidente do FNDE, Fernanda Pacobahyba.

  • Enquanto construções tradicionais podem levar anos, em alguns projetos industrializados a construção pode ser feita em até 90 dias.
  •  Além disso, o modelo permite que uma obra possa ser “transportada” para outro lugar, com uma perda pequena da estrutura construída.
  • Por outro lado, essas construções tendem a custar mais. O FNDE ainda não sabe o custo da obra e está levantando os valores, mas em uma consulta inicial estima que seja cerca de 15% mais cara.

    No início do mês, o órgão realizou um encontro de especialistas no tema, em parceria com a Caixa Econômica, para começar a traçar os critérios para adoção das chamadas “construções inovadoras”. Participaram pesquisadores da Universidade de Brasília, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e membros do governo.

    O FNDE já identificou cerca de 20 empresas que podem oferecer o serviço no Brasil. O mapeamento foi feito a partir de um chamamento público feito pelo órgão no mês passado.

    No processo, o órgão questiona qual a vida útil das construções oferecidas; pede comprovação científica de segurança contra incêndios; questiona caracterização do tipo de cobertura, revestimento, impermeabilização, entre outros pontos. O órgão também vai discutir com autoridades locais onde será feita a reconstrução das escolas destruídas, seja no modelo tradicional ou modular.

    “Não é simplesmente dizer ‘vamos reconstruir’, mas é onde. Não dá para colocar recurso público para em outubro ter outro evento desse e levar tudo”, analisa Pacobahyba.

    A perspectiva do órgão é que na próxima roda de adesão a obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em janeiro, os municípios já possam acessar a construção rápida de escolas.

    O FNDE ainda não definiu o número de obras a serem financiadas com a medida, mas em uma análise inicial estima cerca de 400 obras a um custo de R$ 2 bilhões, que correspondem a 20% do que deve ser financiado pelo PAC na área. O órgão quer disponibilizar em seu portfólio pelo menos dois modelos de creche e um modelo de escola em tempo integral, que são o carro-chefe do PAC.

    Alternativa célere

    Além da necessidade do Rio Grande do Sul, o modelo entrou no radar no governo para ser uma alternativa célere de entrega de obras na área da educação. Neste ano, a gestão petista foi alvo de críticas em relação ao ritmo de conclusão de obras retomadas.

    Desde o início do mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou como uma de suas prioridades a retomada de cerca de 4 mil obras paralisadas e inacabadas na área da Educação, mas durante todo o ano de 2023 isso não ocorreu.

    O FNDE argumenta que durante todo o ano de 2023, o órgão ficou a reboque de decisões do Congresso. Isso porque, a Medida Provisória do Pacto Nacional pela Retomada de Obras e de Serviços de Engenharia Destinados à Educação Básica caducou no Congresso e o governo teve de enviar um projeto de lei, que acabou sendo aprovado em outubro do ano passado.

    “A retomada, para a gente, começa mesmo a partir de janeiro, porque até 22 de dezembro ainda estava o prazo de adesão de Estados e municípios. Hoje a gente tem quase 200 obras já retomadas”, afirma Pacobahyba.

    No passado, a ex-presidente Dilma Rousseff foi criticada por tentar promover a construção de creches pré-fabricadas. Na época, o modelo foi chamado pejorativamente de “creches de plástico” e rendeu discussões. Foram habilitadas as construções de estruturas de Concreto-PVC, Compósitos-Pultrudado, ou Steel Frame-Placas Cimentícias, compostas por cimento, celulose e outros materiais e usadas em fabricações pré-moldadas.

    Agora, uma das preocupações do governo em adotar o novo modelo é garantir que o processo seja acompanhado por outros órgãos como o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), e a academia.

    “Especialmente com a urgência das creches, não dá para esperar muito (para construir) que o menino cresce. E vai para outro tipo de escola. Então, a gente passou a aprofundar a questão das metodologias inovadoras. O governo federal já tentou uma compra em escala, mas me parece que é um mercado que ainda não dá conta de uma quantidade muito grande”, afirma a presidente do FNDE.

    Tecnologia usada em Florianópolis é modelo analisado pelo governo

    Um dos exemplos que tem sido considerado pelo FNDE é o modelo utilizado na construção de uma escola de 3 mil metros quadrados em Florianópolis, em Santa Catarina. Com 18 salas e a um custo de R$ 17 milhões, o prédio foi construído em 42 dias para atender a uma demanda por vagas na cidade.

    Escola Básica Municipal Darcy Ribeiro tem 3.018 metros quadrados de área construída, é modular e custou R$ 17 milhões. Foto: Prefeitura de Florianópolis/Divulgação

    A prefeitura utilizou o modelo de construção chamado “Steel Panel” no qual a estrutura é feita com painéis de aço que, posteriormente, são revestidos com manta termoacústica, lã de vidro, placa cimentícia e gesso. O secretário adjunto de Educação de Florianópolis, Luciano Formighieri, fez uma apresentação sobre a escola ao FNDE.

    “Acabei de entregar uma creche (no modelo tradicional) que comecei com o FNDE em 2016 e ficou pronta agora. Oito anos de obra. Uma das empresas faliu. Três empresas começaram a obra, o orçamento era baixo, uma tragédia. No mesmo bairro onde entreguei essa escola”, conta Formighieri.

    Segundo ele, o custo da escola foi 25% maior do que o de uma construção tradicional. Esses valores mais altos são um dos pontos que o governo tem analisado ao adotar o novo modelo. Para isso, o processo será feito em parceria com a Controladoria-geral da União (CGU).

    “Nós temos quase 4 mil obras espalhadas pelo Brasil de 2007 para cá e que não foram realizadas. Obras com 10 anos, que não foram entregues. Doze anos e não foram entregues. Então, isso nos intimou a pensar de uma forma diferente”, disse a presidente do FNDE.