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Autor: José Abrão
Publicado em 25/02/2021 - Jornal do Professor, Notícias
(JP Online) Intervenção na Petrobras pode abrir caminho para privatização
Com a disparada dos preços dos combustíveis na bomba e a ameaça de uma nova greve dos caminhoneiros, o presidente Jair Bolsonaro interviu na Petrobras, trocando a gestão da empresa e fazendo uma série de ataques ao seu quadro executivo, questionando a transparência da estrutura de preços da companhia, assim como o salário do alto escalão.
Desde o governo Temer, a Petrobras passou a adotar uma política de reajuste de preço do combustível seguindo mercado internacional, que está sujeito à especulação financeira. Esse valor é repassado para o consumidor, e gera a flutuação diária do preço dos combustíveis. A política até o governo Dilma era não fazer esse repasse: segurar e estabilizar o preço do combustível, utilizando, inclusive, combustível para combater a inflação.
Para o economista e professor da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (FACE-UFG), Everton Sotto Tibiriçá Rosa, o que preocupa não é a intervenção do presidente, nem o general que ele colocou na gerência, mas quais intenções estão por trás do populismo bolsonarista.
“A Petrobras tem uma função pública e até o governo Dilma era usado como instrumento de política pública além de ser uma empresa que gerava lucros para os acionistas. Então se ‘financeirizou’ os preços, algo que não devia ter sido feito. Qualquer coisa diferente disso já incomoda o mercado financeiro, que é especulativo”, explica o economista. Porém, como empresa mista, a Petrobras tem uma função pública, “a não ser que se faça o que o ministro Paulo Guedes deseja: privatizar. Até que ponto essa novela não é para justificar esta privatização?”, questiona Rosa, “a Petrobras está sendo gerida para atender qual objetivo de desenvolvimento econômico? De investimento e controle de preços? O governo precisa direcionar, mas se não há diretriz, fica difícil”.
O docente comenta que a incerteza gerada pela intervenção transborda para fora do mercado financeiro, pois por ter sido feita de veneta, ninguém sabe o que o presidente irá fazer. “Ele vai tirar tributos? Ele vai acabar com o repasse internacional para o preço doméstico? É uma intervenção estudada, programada, feita de forma planejada e com objetivo de política pública? Ou é simplesmente uma coisa feita de forma temperamental?”, questiona.
Até o momento, o presidente fez um decreto que está exigindo o detalhamento dos tributos que são pagos, como forma de questionar a transparência da empresa e colocar pressão também sobre os postos e o ICMS cobrado pelos Estados. “Ela é uma empresa mista. Ela tem uma função de instrumento de política econômica e a função de gerar lucro para os acionistas, não é só uma coisa nem outra. É um equilíbrio sensível”, finaliza Rosa.