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Autor: Ascom Adufg-Sindicato
Publicado em 22/05/2023 - Jornal do Professor, Notícias
Apesar do etarismo, cresce no Brasil o número de estudantes 40+
discriminação sofrida por uma estudante de 40 anos em uma universidade de Bauru (SP) ganhou repercussão recentemente. O fato evidenciou não apenas o etarismo, que é o preconceito baseado na idade da pessoa, mas também a ignorância sobre uma tendência do ensino superior no Brasil. De acordo com dados do Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), o número de estudantes com 40 anos ou mais que ingressaram em universidades quase triplicou nos últimos 10 anos. Atualmente, eles somam cerca de 1,2 milhões em todo o país, representando 13,4% do total de universitários. Na Universidade Federal de Goiás (UFG), segundo dados disponibilizados pela Pró-Reitoria de Graduação, atualmente, a instituição conta com 763 alunos acima de 40 anos.
A faixa etária corresponde a cerca de 3,5% dos 21.325 estudantes dos cursos de graduação da instituição. Entre os cursos mais procurados por eles, estão: Educação Intercultural, Biblioteconomia e Pedagogia. Em relação aos desafios encontrados por eles no ambiente acadêmico, o pró-reitor de Graduação da UFG, Israel Elias Trindade, destaca que, por enquanto, não há estudos específicos sobre a questão, mas apresenta suposições, com base em sua experiência de gestão acadêmica. “Temos observado que as dificuldades têm mais relação com o perfil do estudante do que com a faixa etária propriamente dito. Por exemplo, quando se trata de um estudante indígena, poderia haver dificuldade linguística.
Quando se trata de um estudante de renda inferior, poderiam haver dificuldades econômicas. Quando se trata de um estudante trabalhador, a dificuldade em conciliar estudo e trabalho poderia ser um óbice. Quando se trata de uma pessoa com deficiência, talvez a acessibilidade pudesse ser o empecilho. Enfim, carece de mais estudos para termos mais clareza se o fator ‘faixa etária’ teria uma dificuldade específica”, analisa. Sonho realizado O estudante Aluísio Gustavo Miranda da Silva é um exemplo de que a idade não é um obstáculo para quem busca pelo sonho da graduação. Aos 40 anos de idade, o veterinário, que nunca exerceu a profissão devido a uma asma alérgica, conquistou a tão sonhada vaga no curso de Medicina da UFG.
“Meu sonho sempre foi a Medicina, mas devido às dificuldades financeiras e falta de oportunidade, eu acabei indo para a Veterinária”, conta. Mesmo depois de garantir o diploma como veterinário, Aluísio nunca deixou de lado a vontade de ser médico. Hoje, depois de nove anos de cursinho, o calouro da UFG se juntou aos adultos acima de 40 anos matriculados na instituição. Estudante de escola pública, ele conta que a caminhada até a conquista da vaga não foi fácil. Trabalhando como vendedor de brinquedos e algodão doce, o apoio da esposa, do filho e dos professores foi essencial.
“Eu ganhei bolsa para fazer cursinho, mas mesmo assim existia um abismo enorme entre mim e os estudantes de escolas particulares. Foi um processo de muita luta. Graças a Deus, eu consegui professores que me ajudaram, tive o apoio da minha esposa e do meu filho, além do sistema de cotas, que foi essencial para que eu pudesse conquistar uma vaga e realizar meu sonho”, declara. Com responsabilidades familiares e financeiras, Aluísio acredita que muitos adultos encontram dificuldades em conciliar a vida universitária com as obrigações da idade. “Eu preciso cumprir com as minhas responsabilidades de casa e com a minha família, além de cumprir com as demandas da faculdade. A questão financeira pesa bastante, preciso trabalhar para me manter dentro da universidade. Não posso ficar só por conta de estudar, igual a maioria dos meus colegas”. Mesmo com os desafios que ainda virão pela frente, o estudante vê de maneira positiva o aumento no número de universitários acima dos 40 anos.
Para Aluísio, o ambiente universitário deve estar aberto a todos, e é uma questão de tempo até que a sociedade se acostume com o novo cenário e deixe de lado todas as formas de preconceito, incluindo o preconceito etário. “Eu acredito que a universidade está cada dia mais preparada para nos receber, mas ainda falta o implemento de algumas políticas, como apoio psicológico e amparo social. Nós ainda nos deparamos com algumas distorções e posicionamentos patológicos, mas acredito que a sociedade está mudando e que muitos paradigmas já estão sendo quebrados”, finaliza.