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Autor: Ascom Adufg-Sindicato
Publicado em 21/05/2023 - Jornal do Professor
"É um modelo bonito no papel, não na prática", avalia especialista sobre o novo Ensino Médio
Aprovado em 2017, pelo governo de Michel Temer (MDB), o Novo Ensino Médio começou a ser implementado em escolas públicas e particulares no último governo. Após constantes mobilizações de estudantes, professores e gestores educacionais, além de críticas feitas por especialistas em educação, o governo decidiu suspender a implementação da proposta. Para grande parte da comunidade escolar, a reforma educacional piorou as condições de escolarização e aumentou a desigualdade nas escolas públicas.
Dentre as principais mudanças adotadas estão o agrupamento das disciplinas em Linguagem e suas tecnologias; Matemática e suas tecnologias; Ciências da Natureza e suas tecnologias; e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, sendo que somente Matemática e Português são disciplinas obrigatórias. Além disso, passaram a valer os chamados “itinerários formativos”, que são roteiros de atividades e conteúdos pré-definidos pela escola e que podem ser escolhidos pelos estudantes. A professora Miriam Fábia Alves, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás (FE/UFG), explica que o estabelecimento de tais itinerários é um dos principais pontos da proposta e que pode trazer graves consequências para os discentes brasileiros.
“Em nome de uma propaganda feita pelo governo de que a reforma vinha para oferecer ao jovem a possibilidade de escolha do trajeto formativo, a implantação dos itinerários resulta em um currículo altamente fragmentado, que não proporciona uma formação geral de qualidade e não permite a materialização da prometida chance de escolha ao oferecer opções limitadas de disciplinas”, declara a docente. Ela acrescenta que “na nova proposta, foram diminuídas as cargas horárias de disciplinas já existentes, ao mesmo tempo em que foram acrescentadas outras ao currículo, sem a contratação de novos profissionais.
Decorrente dessa formulação curricular, a qualidade de trabalho do docente e sua autonomia profissional foram prejudicadas”. O diretor de Políticas Educacionais da Proifes-Federação e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Carlos Alberto Marques, compartilha da mesma opinião. Para ele, trata-se de um modelo “bonito no papel”, mas na prática não funciona por uma série de fatores. “Um deles é que as desigualdades educacionais na formação dos alunos devem aumentar. A maioria das escolas públicas do País, responsáveis por cerca de 90% do Ensino Médio, não tem estrutura para oferecer esses percursos formativos e não conta com professores com formação adequada a esses percursos.
Portanto, os alunos podem sair com enormes deficiências no domínio de vários conteúdos, especialmente de ciências e humanidades. Além disso, os cinco itinerários são, na maioria dos casos, apenas uma formalidade, para dizer que as escolas estão cumprindo com a obrigação legal, oferecendo de tudo um pouco”, avalia o docente. Revogação Diante da insatisfação de alunos e professores, têm sido realizadas manifestações por todo o Brasil, além de tentativas de diálogo com o Ministério da Educação (MEC). A diretora de Assuntos Interinstitucionais do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato), professora Geovana Reis, destaca a importância da discussão sobre os problemas enfrentados pelo Ensino Médio Brasileiro.
“Desde 2015, temos discutido os problemas do ensino médio em Goiás. Já foi diagnosticada a necessidade de debates mais aprofundados. Porém, o diálogo foi atropelado por questões políticas, que colocaram em vigor um novo formato, que na prática, aprofunda problemas já existentes e cria outros”, discursou a docente em sua fala durante audiência realizada na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). Após críticas, diálogos e mobilizações, o governo optou por suspender a implementação do Novo Ensino Médio. A suspensão ocorrerá enquanto durar o prazo da consulta pública em andamento sobre o tema - 90 dias prorrogáveis - e mais 30 dias para a elaboração do relatório.
Durante uma das etapas da consulta pública, o governo pretende ouvir a opinião de cerca de 100 mil pessoas, incluindo alunos, professores e diretores de escolas. Ainda segundo o MEC, os resultados das pesquisas devem ser entregues entre o fim de julho e começo de agosto, não havendo problemas na prorrogação do prazo caso as discussões se estendam. Mesmo com a revogação, especialistas afirmam que ajustes no formato do Novo Ensino Médio não são suficientes, sendo necessária a revogação da proposta.
“Como fazer para ajustar um modelo que produz 27 diferentes tipos de currículo nos estados ou 1525 disciplinas? Onde faltam professores nos itinerários formativos ou um professor de Português tem que ministrar aula de Matemática? Onde nos percursos formativos se oferecem ‘como aprender a fazer um brigadeiro’, ‘cuidados pet’, ‘como se tornar um milionário’ ou aulas de RPG? Em São Paulo, por exemplo, faltam professores para 17% das aulas e 37% das escolas oferecerão apenas dois itinerários formativos, mostrando que é uma balela essa história de que os alunos podem escolher o percurso formativo. Assim, como membro da Proifes-Federação e do Fórum Nacional Popular de Educação, defendo a revogação do Novo Ensino Médio e que, por exemplo, se retorne aos Parâmetros Curriculares de 2015”, pontua o professor Carlos Alberto Marques. O Jornal do Professor entrou em contato com a Secretaria de Educação do Estado de Goiás para falar sobre a questão, mas os questionamentos não foram respondidos pelo órgão.